quarta-feira, 26 de novembro de 2008

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Apenas
Um pouquinho
De cultura
Para passarmos
A comer melhor
A vestir melhor
A perceber
E a entender melhor
Amar melhor
Viver e conviver
Melhor
Mesmo que ainda
Com o mesmo
Salário de sempre
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O mais das vezes
Eles se traem
Por covardia
Pelo temor
De serem incomodados
Ou de serem
Passados para trás
E assim
Se precipitam
Criando mal estar
Entre os companheiros
Quando este ou aquele
Na sua disfarçada
Instabilidade
Se contrapõe
Aos interesses
De sua própria classe
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“Pode-se ser
Humano
Numa competição tão feroz?!”
Cabe ao ser humano
Ser
Humano
E nada mais?!
Onde se poderá mais
Encontrar a bondade
Se o coração
É só maldade
A violência nos assalta
Por todos os lados
Brutalmente
O homem
Cada vez mais
Se anula como tal
Perde sua essência
Atropela-se contra si
E contra todos
Mata de toda forma
Pensando antes ser morto
O homem
Não reconhece mais
No outro
O semelhante

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

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Já acordam
Em desvantagem
Sem um café da manhã
Decente
Sai para o trabalho
Já enfrentando todo tipo de adversidade
(quando não atrasado!)
Vai o guerreiro
O batalhador
O coitado
Já tão cedo
Receber baforadas
De dióxido de carbono
Na cara
Aquela fumaça preta, poluição carnuda
Dos automóveis que passam
Enquanto caminha até o ponto do ônibus
Quando em dia de chuva
Faz chafariz da água e lama
Encharcando o homem de indiferença
E imundície
Buracos na calçada
Obstáculos no caminho
Na condução lotada
O sujeito quase caindo
Avança ao seu destino
Todos os dias
A guerra se reinicia
E ele não desiste
Mantém-se firme
Na conquista inexata
Do que lhe resta
Seguir em frente
Sem direito a festa

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

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Não levará muito tempo
Para estarmos
Rindo das mesmas coisas
Cheios de palavras vazias
Dentro de tardes
Igualmente vazias
Que tanto criticávamos
Quando aqui chegamos
E que agora
Fazemos parte
Em pouco tempo
Salvo raríssimos casos
Seremos
Miseravelmente
Iguais
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Enquanto houver
Entre a classe oprimida
Discórdia, fofoca
Desmandos, desorganização
E a pilhéria for a base
De suas camaradagens
Nada poderá haver de progresso
A favor de si
Se em si
Habita a mais profunda
Ignorância
Acerca
De seus próprios problemas
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A fúria do patrão
Atropela até a dignidade
De seus comandados
Que por submissão
Ouvem calados, indignados
A injusta apelação
E quem há entre eles
De ter a ousadia
De não permitir
Tamanha covardia?!
“mais vale engolir o sapo que ir para o saco!”
Mas a questão se aprofunda
e se agrava
À medida que o homem
Não entende que não precisa
Passar por isso
Que o destempero do encarregado
Não tem o direito
De menosprezá-lo, subestimá-lo e inferiorizá-lo
Muito menos a homens de bem
Pais de família
Trabalhadores honestos
Cumpridores de seu dever

“Muitos não entendem ser possível
Conseguir muito mais
Da capacidade produtiva do homem
Exaltando suas qualidades
Que denegrindo sua imagem
Ferindo sua integridade”

sábado, 15 de novembro de 2008

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Não é fácil
A batalha do dia-a-dia
Dura é a sua disciplina
A sua luta
A sua empreitada
Sob o sol quente
Dentro de um uniforme pesado
As horas que se arrastam
Seu sacrifício é constante
Mas a sua gana é imensa
Mesmo sendo quase um escravo
A sua liberdade compensa
O homem já se sente realizado
Com a honra e o suor do seu trabalho
Mas injustiçado
Tem hora que não agüenta

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

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Uma nação que preza
Muito mais
Pelo descanso
Que pelo trabalho
Das duas, uma
Ou ela é uma sociedade equivocada
Falida
Em seus conceitos
Ou está sendo massacrada
Em sua vida
Em seus direitos
E explorada
Na sua condição
Humana

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Ininterruptas
São as conversas ocas
E sem razão de ser
Dos camaradas
Que aguardam no pátio
Da fábrica
Pela próxima convocação
Enquanto o serviço não vem
Aproveitam para descansar
E enquanto descansam
Brincam entre si
Sem cessar
Com as piadas mais sem graça que há
Não se reorganizam
Não deliberam
Não se importam
Não falam de nada que é sério
Estão apenas à postos
E expostos
Ao comando superior
Apenas cumprem seus horários
Certos da missão
Cumprida
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As crianças
Já entendem
O significado da vida dura
Dos pais
Seus semblantes
Já tão cedo
Não são mais os mesmos
E dependendo da condição social
E financeira de cada um
Já são muitas as que vemos nas ruas
Trabalhando
Vendendo balinhas
Ou mesmo pedindo nos sinais
E não são poucas
As que se perdem
Na prostituição infantil
Ainda pelo descaso
Dos pais
E da própria família
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Na venda
Ou no boteco
Conta os míseros
Trocados
O trabalhador
Honesto
Cansado
Por um copo de café
Um cigarro
Ou um trago
Para se manter
Empregado
Pois já passa do horário
Refazendo um trabalho
Que não é seu
Mas ele é um guerreiro
Que não foge da batalha
E cumprirá
A nova carga horária
Orgulhoso do suor seu
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E vai o pobre infeliz
Cumprir feliz
A ordem que lhe foi dada
Cumpri-la de todo jeito
A qualquer hora
De bom grado
Então volta
O pobre coitado
Insatisfeito com o salário
Recebido ao final de cada mês
Para segunda-feira de madrugada
Já por o pé na estrada
De volta
Ao trabalho
Ser usado mais uma vez
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Seu patrão
Fará de ti
O seu vassalo inominável
Serás de fato
“Quase de direito”
Um mero instrumento
Que ele usará
Para atingir seus menores objetivos
O salário que ele paga
Justifica suas ordens
Por mais injustas que estas sejam
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Há uma grande parte da população
Que tem o seu emprego
E os seus direitos garantidos
Do contrário
Teríamos uma sociedade indiscutivelmente falida
O que seria o caos
No entanto
É esta mesma maioria
Que encobre a urgência da última classe
Se bem que
Todos os trabalhadores
São vítimas naturais
Das corporações capitalistas
Que só visam o lucro
Astronômicos lucros que atropelam tudo
Sem se importar com o real progresso do indivíduo
Em detrimento
Da própria sociedade
Da qual faz parte
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O homem não escreve
Sobre si
Tão menos
É dado ao prazer da leitura
A música que ouve
É a que chega aos seus ouvidos
Não a que ele busca
Procura, quer saber
E ouve com atenção
A sétima Arte
Não deve passar de alguma sétima colocação
No ranking de alguma competição
Que ele sequer imagina
E os seus hábitos
Estão totalmente voltados
Para o conforto físico
E instantâneo – urgente
A inteligência
Que naturalmente venha a ter
É de natureza nata
Desenvolve-se por si só e apenas
Para as coisas práticas da vida
Como ser evolutivo
Que deveria ser
Vai na contra-mão de si mesmo
Se desintegrando
Contra as dificuldades do mundo
Até morrer
Sem ter evoluído
O quanto podia
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É que o homem
Se vê tão excluído
Esquecido, rechaçado
Que a sociedade
Para ele
Passa a ser um verdadeiro
Covil
Onde só os que têm algum poder
(monetário ou de status)
Pode fazer parte
Então
Ou ele parte para o embate
Ou desiste dela
Sem saber que ambas as opções
Pode significar
O fim de si mesmo
Todo homem deveria prezar
Por sua própria integridade
Buscar o auto-conhecimento
Ser um ser totalmente independente
No sistema auto sustentável
Dentro do ecossistema de regras sujas
E falcatruas imundas
Que é o mundo
O sub-mundo de hoje
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O pobre empregado
Vive em função
Do seu tosco salário
Ele se condiciona
A chegar ao fim do mês
Apenas para receber
Sua irrisória recompensa
No findo dos 30 dias
Para por em dia seus compromissos
De água, luz, supermercado
Sem contar com a escola
Dos filhos
Uma vida de sobrevivência árdua
Sem tempo para o lazer
E muito pouco tempo para a família
Uma honestidade cara
E uma hombridade rara
Para os dias de hoje
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Eu não sei
Mas a falta de cultura
De leitura, filmes e livros
Ou ao menos
De bons costumes
Dos jornais
Que não só tragam
Notícias sobre esporte
Crimes bárbaros
Notícias sensacionalistas
Parece deixar os homens
Sem assuntos
Ou melhor
Sem profundidade
Pois assuntos
É o que não lhes faltam

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O homem é um individualista nato
Acorda pensando em si
Vive pensando em si
E até mesmo no amor
Dificilmente deixa de pensar em si
Usualmente calcula
Riscos e lucros
Do que quer que faça
Muito raramente
Faz algo sem interesse pelo seu semelhante
Pensa estar perdendo
O seu precioso tempo

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

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Passa todo garboso
O homem para o trabalho
Assalariado mas empregado
Flerta com a vaidade
Que não deveria ter
Senta-se num botequim
Pede o almoço
Toma uma cerveja
Paga com pose de patrão
A comida tosca
Menospreza quem lhe serve
Faz questão de manter uma distância
Que não condiz
Com o que verdadeiramente é
Mas ele é o que pensa
Mas ele só pensa
Não é
Ele não é nada
Menos que os outros
Este homem é dono
Da maior solidão
Que não sabe que tem
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Se
Chega o tempo
Que o homem trabalha
E não consegue cobrir
Suas despesas mensais
Se mantendo no emprego
Mesmo assim
Só para não ser mais um
Desempregado
E ainda se sente um privilegiado
É porque as leis e os direitos trabalhistas
Estão falidos
O homem está impedido
De seus direitos e benefícios
E de seu futuro igualmente
Vive uma quase escravidão
E quase nada se pode fazer contra ela
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Se a juventude conversa sobre crimes
Armas, tráfico, violência
E se sentem bem com isso
Discutem sobre
Articulações criminosas
Tramas policiais
E se sente à vontade
E se orgulha disso
Se pouco se interessa
Se pouco sabe
Ou pouco conversa
A despeito doutros assuntos
Se ganha status no seu meio
Por conta de tudo isso
Como se salvar da condição sub-humana
Que se encontra
De tédio, alienação
E infertilidade mental?!
Condição esta
Que a assola e a domina
Envolve e seduz
Como trilhar outro caminho
Como gostar do que é bom
(Para se aproximar do bem)
Se o mal é o mentor de todo o seu universo
E os maus exemplos fazem-se presentes
Todo o tempo?!

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

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“vamos a la playa!”
É apenas uma frase na letra da canção
Vamos ao trabalho!!!
Eis o nosso legado
A nossa crua realidade
Eis o nosso refrão
(...)
Não nos sobra tempo para o verão
Assim como para a família
Ou para nós mesmos
Vivemos absortos com o trabalho
Vivemos para ele
Dependemos dele
E somos então assim
Consumidos por ele
Achamos estranhos prazeres contínuos
Não nos permitimos nunca mais
A liberdade ingênua momentânea
De instantes eternos
Os calos do corpo atingiram a alma
Não sabemos mais viver!

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A massa acorda cedo
Sem medo do batente
Levando à frente
No suor e na raça
O presente
Que não passa

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Todos os dias
Quase sempre
Os mesmos iguais momentos
A vida toda
À fora e adentro
Muitos poucos doces momentos
Quase nenhum alento
Muitos lamentos
Mesmo sorrindo sempre
Mesmo felizes com o emprego
Mesmo grato pelo bom bocado
O pouco que se tem
Mesmo com o que não têm
O povo vai vivendo
Um dia de cada vez
Tudo de uma vez
Sem ter vez
Nem voz
Todos juntos
E todos sós

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

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Não entenderão a profundidade das relações
E dos empreendimentos
O empregado é tão somente
Massa de manobra
Têm seus direitos garantidos por lei
Mas, muita vez, é destratado pelo patrão
Que vê no empregado um ser inferior
Mesmo o encarregado
Que é bem próximo dele
Não saberá lhe dar valor
Ou tratar com devido respeito
Se valerá da vigente hierarquia
Para justificar seus atos e desmandos
Sob o seu julgo, o mínimo deslize
Sobre o seu julgo
Todos os deslizes
“Dê poder ao homem e verás quem ele é!”
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Cada qual com o seu cada um
Todos têm o seu devido valor
O serviço braçal
O serviço administrativo
A inteligência
E a força bruta
Todos têm suas qualificações
Suas especificações
Sua utilidade
Todos merecem o mesmo respeito
Porque todos são importantes
Para que a engrenagem funcione bem
Porque todos serão responsáveis
Pelo resultado final
Do trabalho
Que é comum a todos

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Não vão perceber que
As músicas que ouvem
As conversas que mantêm
As amizades que conservam
E até a comida que ingerem
Pode representar
O peso no pé da alma
E do espírito
Que não alça vôo jamais

A alienação
É o pior dos inimigos
Do homem

terça-feira, 4 de novembro de 2008

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As pessoas serão duras
Ocas
Sem compaixão
Eis que chega
A era do olho por olho
Do dente por dente
Do qualquer lucro
A todo custo
O homem não reconhece mais
O seu irmão
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Por conta do analfabetismo
E da falta de oportunidade
(exclusão social)
A olhos nus
A informalidade se alastra
O povo se vira como pode
Não espera mais
Nem pelo governo
Nem pelas próximas eleições
Trabalham por conta própria
Sem os benefícios
Garantidos por lei
Da carteira assinada
Não pagam impostos
Não acreditam mais no Estado
E por ele é reprimido
A relação do Estado
Para com o povão
É sempre paliativa.
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Eis que vem o tempo
Que nem a política
Nem a religião
Ou mesmo o próprio homem
Terão alguma relevância na vida

A sobrevivência de cada um
Será a única coisa que importará!
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A vida não será fácil
Para ninguém
Viverão em busca de riquezas vazias e furtivas
Sorte de todo modo
Jogos de azar
Coisas que com o trabalho
Será impossível de alcançar
Por mais que ganhem
Os impostos consumem a maior parte
O governo sempre age dessa forma
Sem chance alguma de progredir
Pobres permanecerão pobres
Ricos se tornarão mais ricos
Através de parcos salários
E programas sociais falidos
O povo vai se distraindo
Entre um carnaval e outro
Uma partida de futebol e um chopp
E com uma escola cambaleante
Dá continuidade
A silenciosa marcha dos sem – futuro.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

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Eis então
Que se forma a grande nebulosa
O companheirismo já não será o mesmo
A expectativa da tempestade que se anuncia
Já transforma o semblante de todos
Cães voltam a rosnar no portão da fábrica
A ferida está exposta
Sobreviverá aquele que for mais esperto e ágil
Feito ratos
Subirão uns nas costas dos outros
Para que a respiração seja sua primeira
Afogados servirão de apoio para dar pé
Os mais fortes proverão!
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Mas o mal é que irão todos pensar em si
.
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E as coisas não se darão de imediato
Feito a matemática que é exata
Tudo se afrouxará paulatinamente
Sem que se perceba
Tudo se encaixará ao todo
Nada se venderá por inteiro
Mas a entrega será incondicional
E se o espírito não for forte
Não tardará para que ele se esfole
E caia por fim
Nas teias do terrível mecanismo
O homem é produto do meio
E meio trôpego não hesitará no seu novo caminho
Lutará com empenho, afinco, unhas e dentes
Para sustentar a sua posição
O seu cargo e a sua família
E não obstante
Sucumbirá ao delito do medo da perda
Se tornando exposto
Às intempéries da adversidade
Às garras da situação
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Mas a alegria mútua
Sincera e fugaz
Dos camaradas
Naquele dado instante
É infinitamente superior
A dor que constante os acompanham
Por conta de injustiças sofridas
Já de forma tão anestesiada
À jornada do dia a dia
Aquela alegria entre eles
É a mais legítima prova do amor e da amizade
Que há entre os homens
Um momento de descontração
Imperceptível por todos
De tão genuína
Que é
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Ainda somos capazes
De abdicar
Todo o nosso tempo
Nossas horas
Nossos dias
A favor dos interesses do patrão
Em detrimento a nossa própria saúde
O patrão não quer saber
Em instância alguma
De nós
Dos nossos problemas
Nem da nossa família
Mas nós temos que lhe ser
Fiel, leal, útil, servil e disponível
Sem dizer do salário
Que na maioria das vezes
É mínimo e injusto
Muito raramente valerá à pena
A incondicional dedicação
Não ao trabalho, mas ao patrão
É preciso saber discernir
A responsabilidade do exagero